quinta-feira, 28 de março de 2013

A impossibilidade da ausência do eu




    A primeira coisa que eu falo para os meus alunos no curso básico de fotografia é que toda fotografia é um autorretrato (citando Dorothea Lange, uma fotógrafa norte americana dos anos 30). Essa frase que a primeira vista parece tão cliché, é uma verdade impossível de ser dissociada do ato de fotografar (e também do fazer artístico em qualquer mídia). Quando alguém se “arma” de uma câmera e se dispõe a selecionar uma parte do grande universo que a rodeia, ela está escolhendo o que, naquele momento, é importante o bastante para ser imortalizado. Para executar essa tarefa ela utiliza como filtro toda a sua bagagem pessoal: toda sua memória visual, toda sua memória auditiva, seus sentimentos e também as questões que seu inconsciente levanta a respeito da parte do universo selecionada. Toda produção artística é sempre feita a partir de um ponto de vista pessoal, mesmo quando estamos falando de outra pessoa, estamos dizendo o que NÓS achamos dessa outra pessoa. Por isso chegamos mesmo a falar mais sobre nós mesmo do que sobre o objeto (pessoa, situação, lugar, etc.) que estamos retratando.
    Mesmo quando a fotografia é tirada de maneira automática e displicente ela revela algo sobre o fotógrafo. Pode revelar inaptidão técnica, aversão ou desrespeito pelo tema tratado, pressa, desinteresse, mas sempre (e eu friso o sempre) comunicará algo do ponto de vista do autor.
    Comunicar é algo inerente à natureza, como um bebê sobreviveria se não fosse possível comunicar através do choro o desconforto da fome ou de um mal estar? Como as árvores se reproduziriam se não fossem capazes de, através de suas flores, comunicar aos insetos a hora de polinizar?  Sim, comunicação não é uma opção, mesmo se alguém escolhe permanecer em silêncio essa pessoa está comunicando.
    




    Essa é uma das primeiras fotos que tirei na vida, e convido, quem quiser, a desvendar quem era essa Renata de 17 anos que, ao olhar ao seu redor, selecionou essa parte do universo para imortalizar. Fiquem a vontade para comentar, eu adoraria saber a opinião de vocês.
    E não esqueçam que ao mesmo tempo em que vocês mostram seu olhar sobre o mundo, em suas fotos, mostram também quem são para a apreciação das pessoas que virem suas imagens.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Ainda sobre criatividade



    Continuando o papo da sexta...

    A lacuna criativa que o nosso modelo de educação cria é sentida ao longo da vida, principalmente em momentos de crise, que é quando somos obrigados a criar planos alternativos para resolver problemas que não foram resolvidos com os procedimentos padrão. Os famosos planos B, C, etc.
    Toda criança é criativa, elas criam mundos inteiros dentro de seus quartos. Mundos com lógica, personagens e mitologia própria e que às vezes extrapola o momento do brincar e que, infelizmente, em algum ponto são reprimidos pelos pais, professores e outras pessoas. Então, a boa notícia é que só precisamos lembrar como é. E lembrarmos que criatividade não está vinculada com habilidade, afinal quando éramos crianças não estávamos preocupados se aquele rabisco parecia ou não com a mamãe, mas era, para nós, a própria mamãe vivendo aventuras em nossos desenhos.
     Um sinalizador de que estamos precisando cada vez mais, e em mais áreas, resgatar nossa criatividade tolhida, é o surgimento de cursos e atividades voltados para o público adulto, que tem como proposta o desenvolvimento e o resgate da criatividade presa dentro de nós. A procura por esses curso e atividades está aumentando de maneira perceptível e, no mercado de trabalho, os profissionais criativos estão sendo cada vez mais valorizados, mesmo em atividade que no passado seriam consideradas de baixa necessidade criativa (áreas administrativas, por exemplo). A faceta criativa que antes era considerada um risco de indisciplina pelas grandes corporações, deixou de sê-lo no momento em que a concorrênia entre as empresas aumentou. Hoje o profissional criativo é considerado peça chave para se encontrar as soluções de novos problemas em um mercado tão competitivivo e dinâmico. 
     Eu acredito que quem entender isso e cuidar desse lado da sua personalidade já começará com um corpo de vantagem nessa corrida maluca e inevitável que é o mundo de hoje.
     Agora e escolha é nossa, turbinamos nossa criatividade ou vamos assistir o mundo passar do lado de fora das nossas janelas?


sexta-feira, 22 de março de 2013

Começando com o básico




     Desde que decidi criar esse novo blog fiquei pensando em como começar. Muitas ideias vieram e se foram, algumas porque eram muito complicadas, outras entraram na lista das futuras postagens...   
     Resolvi voltar ao básico, mas o que era esse tal básico, em um blog que pretende tratar de assuntos de fotografia e arte? Aí percebi que, no fundo, estarei tratando, aqui, de assuntos relacionados com a criatividade. Mas afinal o que é essa tal criatividade? Onde ela se esconde? Porque algumas pessoas as têm e outras, aparentemente, não?
     Lembrei da época do colégio onde tínhamos aula de artes na grade obrigatória de nosso currículo. Naquela época, apesar de ser considerada uma boa aluna nessa matéria, eu não sentia muita atração por ela. Hoje percebo que o problema é que era nessas aulas eram ensinadas técnicas manuais, mas que a criatividade não era incentivada, chegando mesmo a ser apresentado o “modelo” do desenho que a professora queria que fizéssemos. Sei que não posso generalizar e dizer que todas as aulas de artes dos colégios são assim, mas isso serviu de premissa pra eu questionar como a criatividade entrou na minha vida. Bom, não foi pela escola que perdeu uma magnifica oportunidade de colocar desde cedo, nos nossos espíritos, o desejo de “pensar fora da caixa” (cada vez que eu ouço essa expressão tão comum nos nosso mundo corporativo, tenho ganas de esganar alguém). O curioso é que depois de muitos anos de aprendizado de como devemos nos comportar dentro dos padrões pré-estabelecidos da sociedade, vem alguém e diz que o bom profissional (em qualquer área) é o que “pensa fora da caixa”. Não dá vontade de esganar?
     Então, depois de aprendermos a sermos adequados e pensarmos de acordo com o que “é melhor para nós”, vem alguém e nos diz que o importante é sermos criativos. Mas o fato é que esse tal cara está certo. Porque a criatividade nada mais é do que nossa capacidade de resolver problemas. Ela é inerente à condição humana e a responsável por nossa evolução (nossa e de todos os serem vivos, tenho que ser justa).

     Então aquele papo de que a pessoa criativa tem um “dom” é conversa mole? Sim, é. 

     A criatividade existe em qualquer pessoa, e pode ser melhorada através de esforço consciente. Ou seja, deixa de preguiça e vá exercitar sua mente! Você, que é uma pessoa que se preocupa com a agilidade do seu corpo, deveria também se preocupar com a agilidade da sua mente. Faça academia, claro, mas não se acomode na frente da tv que envia para sua mente coisas prontas, mastigadas e pré-digeridas. Procure alguma atividade artística (as artes, em geral, são ótimas formas de exercitar e desenvolver a criatividade), leia um livro, escreva... Nem que seja só uma hora por semana. A médio prazo você perceberá que essa “malhação” mental te ajudará em todos os aspectos da sua vida.


Continuo a falar sobre esse assunto na segunda...